Cegos por instinto
Meus olhos me traem
Fazendo-me pular do penhasco
Sem que antes tenha visto
Que havia um ali, à espreita
E então caio culpadamente
Ainda no êxtase da busca
Por um horizonte inexistente.
Preferia estar cego, de fato
Sem ver o que me machuca
E sentiria através do tato
A clareza dessa vida obscura.
Pois é melhor sentir o belo
Do que apreciar aquilo
Que chamamos beleza, mas que
Tão somente agrada-nos o embrulho.
Enganados pela visão, somos tolos
Todos se esbarrando sem se tocarem
Num desespero que nos faz esquecer
Que temos outros sentidos.