CADERNO DE VIAGEM
N’alguma concha de uma praia
deserta me deito,
escovo os dentes com lambari,
meu barco de madeira,
casa de folha de bananeira,
um coqueiro, um caxixi...
Almoço a gosto, tempero posto,
caldo de tartaruga,
assim acabo com as rugas,
me fio na eterna juventude,
na passageira latitude
entre o naufrágio e a salvação...
Quem se busca para se salvar dos selvagens
procura tirar vantagem,
uma foto de viagem,
uma pedra que corusca
na varanda do sobrado,
um dente de baleia etrusca
na vitrine dos guardados,
um troféu, uma lembrança,
o mar engarrafado...
De novo na caverna da cidade
levo na flauta, levo no bico,
no caderno de viagem
mostro marcas, sacrifícios,
assim, de sobreviver faço ofício,
meu diário à deriva lanço,
da garrafa tiro um gênio
e, no meio do proscênio,
danço.