AMOR PASSAGEIRO

O amor, de longe, é moléstia,

de perto, é mais que cura,

do sol mais que uma réstia

de luz na noite escura...

De longe o amor some

na bruma que vem do cais,

das letras perdeu o nome

e agora é nunca mais...

A pinta no braço, esquecida,

o jeito de sorrir, perdido,

de longe amor não tem vida,

inseto dentro do vidro...

Pra chegar até onde está

a palavra perde as asas,

o amor sabe que vai demorar

o voo por sobre as casas...

De longe o beijo não encontra

os lábios que pensa estarem perto,

um mar que não mais lança suas ondas

sobre um coração quase deserto...

O acaso me trouxe um amor passageiro,

dele só lembro antigas lembranças,

um aroma esmaecido, sem cheiro,

como se perdesse o que fui,

doce criança...

Quem não vê não sabe o passado

do amor que passou e não volta mais,

só escuta da despedida o bailado,

e o choro da amada, sozinha,

na beira do cais...