ATÉ A NOITE CAIR

Nasci no mato,

e no mato me criei,

com porco, cachorro e gato,

aprendi tudo o que sei...

Desde o duro carrapicho,

o doce capim margoso,

da cachoeira o esguicho,

da vaca o leite leitoso...

No mato se vive de fruta,

de palmito barranqueiro,

os pios de noite se escuta,

da flor-da-noite o cheiro...

Com o porco malhado pude

aprender tudo sobre o lixo,

depois me lavar no açude,

pra saúde não ter enguiço...

O cão me passou a lição

de latir só o necessário,

gastar latido com ladrão,

leiteiro, padeiro, vigário...

O gato me deu de presente

andar de manso, pisada macia,

miar baixinho, entre dentes,

ronronar feito peluda poesia...

Na cidade vim pra ver

o quanto alto era o prédio,

e gente a me perceber

do alto do seu turvo tédio...

Voltei pro sítio correndo,

de lá não quero mais sair,

com os bichos vou vivendo,

até a noite cair...