ERA VOCÊ

Fui perseguido impiedosamente.

A batida na porta, quatro vezes,

saí pela porta dos fundos,

larguei aberta, saltei a cerca,

corri o mais que pude, era noite,

entrei num beco, saltei latões,

me esgueirei entre paredes,

saí no tumulto das boates,

ofegava, o coração na boca,

olhava para trás, cheio de medo,

corri entre carros, mil buzinas,

do outro lado, atrás de um restaurante,

fugi dos cães de guarda,

saí numa rua estreita, sem luzes,

parei pra respirar,

corri sem saber para onde,

atravessei a ponte sobre o córrego,

acelerei o mais que pude,

cheguei numas casas abandonadas,

entrei em uma, em outra,

saí pelos fundos, corri,

não aguentava mais,

abri a camisa,

suava frio,

parei, encostei-me na parede,

não tinha mais forças,

senti algo se aproximando,

retesei os músculos,

foi como uma brisa,

suave, bem perto de mim,

fechei os olhos,

escutei uma voz suave,

me disse - eu sou o amor,

abra os olhos e veja,

vim te dizer isso,

te mostrar isso,

essa foto,

olhe,

olhei e vi,

vi que era você,

ele me disse - não fuja mais,

ela te ama,

ri e chorei de alegria,

era como se houvesse um sol noturno

iluminando essa doida poesia...