Ainda que se duvide,
tenho certeza, podes crer,
gente nasce borboleta,
de asas postas a bater.
Anteninhas bem atentas,
para tudo poder ver,
tudo xeretar,
dar beijos de borboleta
prontas pra conversar.

Passa voando na infância
pousando de flor em flor
furungando e aprendendo
pois voando é bom viver.

Cresce, e aos poucos a vida
seu corpo vai transformando:
- Asas?
As têm bem pegadas,
cheias de regras e senões.
Os voos?
Tornam-se curtos,
mundo sem novas visões.
Anteninhas?
Ah, estas murcham,
não pode se comunicar.

Mais tarde, no sol a pino,
começa a transformá-la,
numa crisálida grossa,
que não pode retirar.

Tudo rígido, controlado
horário pra isto,
tempo para aquilo
tudo ajustado,
vida apertada,
nenhum respiro.

E quando "desadormece",
de toda rotina vivida,
vira uma gorda lagarta,
cheia de pernas peludas
e mal podendo caminhar.

Suspira...
olha o mundo lá fora
e deseja recomeçar:
-Uni duni tê o escolhido foi você!
-Mamãe posso ir?
Mas já não pode voar...

Isiara Caruso (IsiCaruso)
Enviado por Isiara Caruso (IsiCaruso) em 05/03/2020
Reeditado em 26/05/2024
Código do texto: T6881129
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