COFRE SECRETO

Melhor perder do que carregar sem motivo,

usar sem saber para quê, sem sentido,

as mãos cheias e o coração vazio...

Os bolsos abarrotados de coisas diferentes,

nomes de bichos, sobrenomes de entes,

uma fieira desgastada. de dentes...

Andar por aí, desengonçado, com a sacola nas costas,

cadernos e cadernos cheios de perguntas sem respostas,

puídos mapas, rabiscados, sem nenhuma definida rota...

A cabeça pensa de tanto peso, nem o chapéu pode pôr,

os olhos marejados, pálidos, sem nenhuma pálida cor,

dentro do peito, cofre secreto, nenhum poema de amor...

Sentar na calçada e ver as rodas girarem, sem destino,

banhar-se na luz do sol, nu, voltar a ser o mesmo menino,

respirar fundo, limpar-se de névoas, sem nenhum desatino...