APENAS UM NÚMERO

Não! Não quero ser apenas

Mais um número que amplia as estatísticas no meu país.

Não quero me trancar como animais selvagens

Marcando seus territórios

Com garras afiadas e olhares sangrentos.

Não! Não quero ir de encontro

Ao exposto em minha Constituição,

O direito de ir e vir me conduz

Pois sou uma cumpridora do dever,

Sou cidadã!

Não! Não me diga o horário de saída

Muito menos o de chegada

Não me diga que as horas devem ser seguidas.

Não! Não vou seguir seus passos e me isolar

Como quem anda desconfiado, nas sombras

Com medo de ser revelado.

Sou um número, sim

Pois tenho data de nascimento

Não sou um número de partida,

Para sempre.

Não! Não quero estar estampada nas capas de jornais

Cujos leitores dos dias seguintes não lerão mais.

Quero ser apenas

Uma pessoa que ao buscar o passado

Viu que valeu a pena sonhar.

Não! Não quero ser apenas mais um número.

Quero, sim, voar

Cada vez mais alto pelas primaveras

Que contam os números da minha vida.