Ser Quem Sou
Sou um cidadão comum. Desses
Que procuram além de si, enquadrar-se
No mundo de medo igual
Que, repleto de falhas constrói desilusões.
Sinto em cada respirar, o desigual em mim.
Isso faz parte do incompatível véu desnudo
Frente aos meus olhos vulgares
Imersos no vão das angustias.
Como se fosse a poeira, a terra seca
Que pulveriza o orgulho, a vaidade
Rindo da própria queda como
Um comum ser, antes mesmo de ser.
Moribundo sem força e escondido na vala,
Inundado por pesares adquiridos na jornada
Entre livros mofados, traças, percevejos,
E sobre tudo também desassossegos.
Sou aquele que procura germinar,
Dar vida ao nascimento poético
Surgido do acaso numa noite sombria
De cada alvorecer pensante.
Sou ainda o que se veste na coragem,
Se desnuda gladiando valentias
Em busca do conhecimento,
Mas sucumbe frente ao tempo.
Sim! Esse tempo que a tudo mata,
Essa existência que nos impulsiona,
Que depois limar a esperança
Causando enfermidades, lançando-nos no caos.
Eis o conceito chave. O caos.
O olho de Shiva destruindo para fertilizar
Numa renovação constante
Inda que valha o tombo para aprender.
Quisera cultuar “Lete” e por um fim a amargura
Que “Éris” e as “Algea” filhas suas
Impuseram-me ao longo da vida
Raptando não só as minhas, mas também eu.
Fernando Brasil:. 19/02/2020