NA LADEIRA
Declino, escorregadiço, uma ladeira
Envergonhando a face rubra que emudece.
Lento ao caminhar sem eira e nem beira,
Neste mundo, então, que pouco se apetece.
Já não vejo tantas caras, só caveira,
Meu ânimo desatina e se estremece.
Sou parte de realidade cada vez matreira
Num universo inerte onde muito se padece.
A lança do tempo intenso é dura e certeira,
Agruras desse mesmo tempo a face empalidece.
Firme escrevo, irresoluto, de minha carteira,
Mácula que ao semblante esmaece.
Não marcho igual à que certo tipo queira,
Cônscio no meu caminhar, meu ser não arrefece.
Este andar, por vezes, dá náuseas, dá canseira,
Mas, ao te encontrar, meu palmilhar se enternece.
Como andejo sou ébrio em meio a parreira,
A degustar bom vinho que o cerne todo aquece.
Esqueço males e não perco a estribeira,
Perto de ti que todo meu ser se esquece.
Contigo prossigo, moça bonita, faceira.
Minha sisudez por ti se amolece.
Insisto e persisto, bela companheira,
Se resvalar na ladeira a queda se amortece.