ESTOU AQUI TE ESPERANDO

Hoje acordei e nada tinha mudado de lugar...

O porteiro portava o crachá, o cão latia em dó,

olhei sua foto, lá estava aquele seu olhar,

a padaria na esquina, o cheiro de pão de ló...

Andei dois quarteirões, o mendigo deitado,

edifícios vazios, a apressada multidão,

nas paredes, corações desenhados,

todos correndo atrás de quimeras,

iludidos pela ilusão...

Tomei o ônibus lotado, me senti espremido,

cantava uma embolada o retirante desdentado,

espiei a moça sendo assaltada, impotente, pelo vidro,

quase chorei, senti o quanto estamos todos abandonados...

Desci depois de alguns quarteirões, fui trabalhar,

sou coveiro do cemitério da cidade, não sei até quando,

estudo medicina para, um dia, a vida dos outros melhorar,

abri os portões, me lembrei da frase: estou aqui te esperando...