TUA POESIA
O que te acontecerá se cessar teu amor,
feito de festas e afagos e faíscas de desejo?
A quem ama, pelas campinas, apanha a flor,
avança na noite escura, teu cavalo é o medo...
O que te fará o silêncio ausente de sentimento,
em que escreves a música do teu rubro sangue?
A quem cantava tua ode plena de tua doce voz
te ama sem a docilidade de um rio estanque...
O que poderá te causar essa falta de arrepios
que lhe traziam um dom causal de fervura?
A quem devota teus versos repletos de cio
guarda teu leito com a certeza de tua bravura...
O que será o mundo daqui em diante sem tua
luz que ilumina cada um dos teus corredores?
A quem rabiscas estes parcos reflexos de tua lua
estende a ponte e verás do que são feitos os amores...
O que te fará aquele senhor de vestes negras
que pensa tornar-te marionete da estranha dor vazia?
A potência que trazes em teu bojo será tua arma na peleja
no campo sedoso e branco onde plantas e colhes tua poesia...