ESTA POESIA

Quando espias a mansa chuva

e mansamente canta tua canção,

saiba que nela há a rubra

sentença de varrer o chão...

Quando vês a lua por entre pingos

e docemente tua triste valsa entoa,

olha a nuvem e seu cinza nimbo

que some no chão quando se esboroa...

Quanto tomas a água no teu copo de vidro

e sente que desce ela a te saciar,

saiba da sede da terra, o mar revolvido

se deita em seu colo e se põe a rolar...

Quando faz a piscina para o teu banho,

imitas o golfinho e suas nadadeiras,

avança sobre a cidade o mundo estranho

de águas rolantes descendo ribanceiras...

Quando lembrares do deserto e um só oásis,

que acalma a sede de cada viajante que ia

buscar ouro, incenso e mirra, fazer as pazes

entre o Deus que nasce e a correnteza fria,

saiba que são longas as garras tenazes

das águas revoltas afogando esta poesia...