Contas.

Em vez de contar

O tempo que passa

Desmonto mentalmente

A uma lembrança

Dessas, que vem com o tempo

Nessa alma de criança

Conto as peças, cresce o faz de conta

Um brinquedo feliz, a vida

Ela é

Mas quebra fácil e dura pouco

Se despedaça e desmancha

e perde a graça e a magia

...se aprende a contar os dias

Procuro o que houver de mais

e de menos humano em mim

Nada chego a concluir

Mas suponho

Que ambas sejam a mesma coisa

Enquanto a criança

Seriamente

Escuta histórias que lhe contam

Sobre outra criança

Que gostava de olhar o trem

Contar vagões

Pular

Ladrilhos de quintal

Nas horas comuns de uma vida

Sem nenhuma em especial

Essas, não houve

Teve a vida, como um todo

Contava gotas de chuva

Suspensas nalgum varal

Batendo umas nas outras

Igual se tivessem

Pressa e hora marcada

E não tinham nada além

Daquilo que tem quem sabe sonhar

Sem se perder no trajeto

Entre si mesmo e a vida

Essa, passa tão despercebida

Quanto uma linda tarde de infância

Em que a gente teve medo

De sair para brincar, porque chovia

Desde então, eu parei de contar

Só me lembro que choveu naquele dia.

Edson Ricardo Paiva.