CEDO OU TARDE

Quando rio

sinto o frio

que dá no coração do palhaço

se não alcança o laço

que envolve quem o vê,

quando escrevo

sinto o medo

da palavra escondida na caverna,

a que caiu na cisterna,

a que morre de medo da moderna,

quando escrevo

sei que nunca é tarde

e nem é cedo...

Enquanto vivo

escuto o silvo

da bala que passa,

do tigre na mata,

da estrela que se apaga,

do universo que se alarga,

enquanto isso,

mormente o vício

de amar as palavras

e me servir delas,

enquanto vivo

pousa na minha janela

um pássaro de cores douradas,

canta a berceuse em voz pausada,

me deito, me abraço,

me encanto, me faço

aquele que se tornará, um dia,

sua própria poesia...