A CARTILHA VAZIA

Todo poeta conhece bem a solidão,

ela que o toma pela mão

e o leva até uma parede sem janelas,

casa sem portas sem fogão e panelas,

onde o faz fazer tudo,

a enxergar no escuro,

andar sobre cacos de vidro,

a tomar mais de mil comprimidos,

aperta seu peito

de um tal jeito

que escorre versos de seus lábios,

ainda verdes, imaculados,

o obriga a saber onde a sina

fez sua toca,

o leva pra bem longe de si,

o ensina a viver

como a poesia gosta

e o larga num beco qualquer,

ferido no peito, bem fundo,

e lhe diz, mordaz,

que encontre seu lugar no mundo...