POESIA LÍQUIDA
Hoje já não escrevo a lápis,
nem uso cimento, areia e cal
para transformar poesia
em algo concreto...
Uso a poesia líquida,
que coloco em frascos,
e numa barraca de badulaques
ofereço a quem queira sentir
o aroma de versos
transformados
em H2O...
Pode se pingar nos olhos,
para ver palavras dançando,
colocar duas gotas na língua
se quiser recitar sem erros,
três gotas para falar em sânscrito,
quatro gotas para uivar versos
ao sol, que nasceu sem dentes,
mas que crava seus raios na pele...
Se preferir via oral
coma três partes de odes,
uma de soneto,
um quarto de trova
e depois nos diga
se não se parece com esturjão,
a ova...
Ou então lance mão da seringa
e aplique na veia
cada fonema,
cada centelha...