NOITE E DIA

Quando o sol puxa o cobertor até as orelhas

e ronrona feito gato e se dobra, de conchinha,

o que sobra são fiapos de luz, belas estrelas,

o universo dorme com ele, acorda com as galinhas...

A noite, que não teme o escuro,

crava os dedos nas árvores celestes,

num salto assoma, surge sobre o muro,

arrasta cauda longa, negras vestes...

Reina se enfiando onde havia claridão,

cobre o mais brilhante brilho com seu manto,

empresta ao homem a parecença com a solidão,

a alguns doa o prazer noturno, a outros o pranto...

Se afasta, cobrindo o rosto, a fagulha a lhe cobrir,

explode em cem mil pedaços ao clarear do dia,

se recolhe como um vulto na penumbra a fugir,

sabe que nasce a mais gloriosa poesia...