PERIPATETICAMENTE HERMÉTICA
Queria uma poesia hermética,
peripatética,
feita de dilúvios seminais,
estonteante como um hai-kai,
cheia de segredos,
feita de cópulas sem medo,
que desse a entender
que não há nada a saber
além do já sabido,
o que está fora e dentro do vidro,
criada em laboratório,
cheia de sacrossantos falos retóricos,
distorcida como a marmita
dos apóstolos e teólogos,
sem neuras e sem brechas,
que levantasse as portas do Paraíso,
mostrasse a maçã sem juízo,
um pedaço à mãe,
um pedaço ao pai,
lida na praça pela tempestade,
inteira não fosse,
meio mentira,
meio verdade...