DOCE POESIA

Fico assim arrepiado quando vejo, pelado,

o caju pendurado no cajueiro, no balanço,

abro os dentes e mordo o corpo adocicado,

tudo ao redor se move, meu espírito danço...

Fico assim desfalecido quando vejo a lua, nua,

se derramando no córrego onde ando pescando,

ou quando toco essa viola pelas vielas e ruas,

essa voz de ave rouca, apaixonada, cantando...

Um dia fui de pensar no eu e ser o eu

e não me tocar de que posso ser qualquer um

pedaço deste universo brilhando dentro do breu,

graviola. molusco, roceiro, trapaceiro, até atum...

Agora sei como ficar e partir e voltar,

ser o cisco nas mãos da brisa macia,

sei ser a onda que se deita na praia, o mar,

sei ser até no teu diário uma doce poesia...