Expulso

Você levantou sua mão e mandou que fosse embora

Me expulsou de sua casa como quem enxota um animal

Mas nunca reparou que eu sempre estive fora

E que eu sou de fato um bicho sem nada especial

Nada do que você tira de mim eu tive algum dia

Sendo impossível perder o que não se tem, nada me afeta

Vejo alegria na sua covardia e sinto quase empatia

Se numa poesia nada falta, é porque ela está completa.

Eu sou Opera de guitarras incendiadas

Sou trovão que acerta a cama de um quarto trancado

Sou respingo de chuva fria na calçada

Sou errante apaixonado mal-amado certo de estar errado.

Me encaixo entre os mendigos e os executivos

Entre o sagrado e o profano

Vivendo um pensativo compulsivo narrativo

Nesse oceano fantasioso humano.

Você me põe pra fora mas eu nunca estive dentro

Você fecha uma porta que flutua sem parede

Exige um juramento sem intento

E mesmo eu já tendo partido se despede.

Quando eu vou aterrissar?

Quando eu vou tocar no chão?

Meu destino é permanecer no ar?

É me alimentar dessa ilusão?

Pra quem não tem espaço nem lugar

Se aprende a ter companhia na solidão.

Seja de favor, sem favor, por favor

Eu sempre vou ter onde morar

Estou me acostumando com o frio do calor

Justamente por não ter onde ficar

Levando comigo o mais grosso cobertor

Que é minha alma fatigada pra esquentar.

Gabriell Araujo
Enviado por Gabriell Araujo em 25/11/2019
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