Expulso
Você levantou sua mão e mandou que fosse embora
Me expulsou de sua casa como quem enxota um animal
Mas nunca reparou que eu sempre estive fora
E que eu sou de fato um bicho sem nada especial
Nada do que você tira de mim eu tive algum dia
Sendo impossível perder o que não se tem, nada me afeta
Vejo alegria na sua covardia e sinto quase empatia
Se numa poesia nada falta, é porque ela está completa.
Eu sou Opera de guitarras incendiadas
Sou trovão que acerta a cama de um quarto trancado
Sou respingo de chuva fria na calçada
Sou errante apaixonado mal-amado certo de estar errado.
Me encaixo entre os mendigos e os executivos
Entre o sagrado e o profano
Vivendo um pensativo compulsivo narrativo
Nesse oceano fantasioso humano.
Você me põe pra fora mas eu nunca estive dentro
Você fecha uma porta que flutua sem parede
Exige um juramento sem intento
E mesmo eu já tendo partido se despede.
Quando eu vou aterrissar?
Quando eu vou tocar no chão?
Meu destino é permanecer no ar?
É me alimentar dessa ilusão?
Pra quem não tem espaço nem lugar
Se aprende a ter companhia na solidão.
Seja de favor, sem favor, por favor
Eu sempre vou ter onde morar
Estou me acostumando com o frio do calor
Justamente por não ter onde ficar
Levando comigo o mais grosso cobertor
Que é minha alma fatigada pra esquentar.