A FUNDAÇÃO DE UM PAÍS
Resolvi fundar um país.
Nele cabem todos os que ali querem e desejam morar.
O primeiro fui eu.
Entrei e não quero mais sair.
Não há leis e nem a falta delas.
Existir é a primeira lei.
Que anula todas as outras.
Há coisas que não mandamos.
A fome.
O riso.
O choro.
Cada um tem a sua e o seu.
Resolvi eleger um conselho e seus membros.
Que são os meus.
Exercícios.
Pula-corda.
Amarelinha.
Tocar corneta.
Obrigações?
Sim.
Existem.
A primeira é viver.
Viver não é fácil quando se tem que viver as coisas dos outros.
Viver de si e para si requer dividir.
Aí entra os outros.
Repartir as sensações.
Cantar ao outro o que se sente.
Ouvir o que o outro fala e canta.
Os doentes.
Os quase sãos.
Os que parecem sãos.
Os sãos.
Esses são os outros que fundaram um país.
Como o meu.
A descoberta de que somos países é divertido.
Saber de outros fonemas e adjetivos faz sentido.
Viver cada milímetro de segundo é o objetivo.
O resto?
Nunca chame o que sobrou de resto.
São países invadidos e que precisam de ajuda.
Não com exércitos.
Mas com o séquito de anjos que sabe que o amanhecer
pertence a todos.
Países ou não.