AMANHÃ
Rir palavras mostra os dentes
Os dentes mostram a fúria
A fúria é só a poesia sem medidas
Cobrindo o corpo de quem passa
Com chumaços de polens benfazejos
O som das guerras ao longe
O amor amordaçado suspira
O céu se nubla e joga lágrimas...
Rictus facial mostra a força da dor agindo
Impérios ruem e cidades implodem
Fronteiras caem e reis fenecem
Poetas sentados em pedras rubras
Escrevem cartas aos anjos
Cada raiz arrancada é um verso morto
Escrito no vento e despojado de posses
E o que nos resta é só um menino
Que bebe água na poça
Sem saber de Narciso...
Este tempo não é para relógios
Que carregamos nos pulsos
É sim a hora que se recolhe
Nas ruínas dos mecanismos
Onde o tempo e o espaço
Fiam a nova hora da nova
aurora...