Enquanto o tédio e a solidão não me devoram...
Um bom poeta
deve saber a hora de maneirar na bebida x poema
de forma que o que saia
pela ponta da caneta
sejam fragmentos do seu corpo
e gotas do seu sangue
e não apenas
aquilo o que o álcool e
as outras drogas,
essas amantes de qualquer boa criatura cansada demais ou covarde demais
para ver os próprios olhos no reflexo da realidade,
mandam escrever.
Um bom poeta
acende o cigarro com os fósforos
virados para o vento e
não perde muito tempo olhando para a monotonia eterna dos horizontes.
Um bom poeta
apaixona-se por coisas e detalhes imperceptíveis,
como as tranças de um cabelo ruivo num rosto deformado
ou uma cicatriz no rosto da mulher
que poderia ter todo o seu amor ou algo parecido.
Ele também sabe que ficar só
nunca foi um castigo divino
nem consequência da sua
depressiva introspecção,
mas sim um privilégio.
Quantos tem a capacidade
de viver e compreender
toda a beleza da solidão e
do autoconhecimento?