Mudanças inertes
Nada é mais estático que as mudanças
Mudamos tanto que tudo acaba sendo esperado
E as novidades despretensiosas talvez nunca cheguem
E há quem reclame do calor e busque o frio
Consegue mudar a sensação térmica
E se descontenta facilmente com a nevasca
E quem sabe realmente o que quer?
Que mudança buscar?
Que estrondosa inércia quebrar?
No fundo, vejo o mundo parado
Pessoas dando voltas sobre si mesmas
E depois da centésima viagem, retornando...
É estranho, mas voltamos ao ponto inicial
E a mudança que buscamos nos cansa
De tanto mudarmos, nos brota o temido enjoo
E eu fico observando não mais com os olhos
A tragédia é perceptível ao tato
É possível apalpar o sofrimento dos agitados estáticos
Vivem correndo, hoje contra o vento
Amanhã contra si mesmos...
E então o que falo de mim?
Observo o mundo mudando e estremeço
Não porque eu não possa mudar
Mas estremeço ao pensar que tudo se repetirá
E que as mudanças não passarão de novidades já sentidas
O sentimento de Déjà Vu diante do novo se supera
Como é sobre mim que devo falar
Atrevo-me a dizer que bastaria uma simples mudança
Nada escandaloso ou que cause celeuma nas massas
Eu queria essa pequena alteração de nuances
Mudar em mim o preto para o cinza
O frio para uma brisa suave
Na verdade não, é a revolta que me move
E a revolta não é filha única das mudanças
Vem acompanhada de consequências
Enquanto todos nós buscamos por alterações da realidade
Espero não fazer unicamente parte do todo
Se muda o todo, deixa de ser novidade
Tudo mudando e levando a gente junto
Deixa de ser surpresa, deixa de ser humanidade