Fim de expediente

Escrever sobre bundas salvadoras

e fodas bem ou mal sucedidas,

sobre o âmago da poesia e os seus mortos,

sobre drogas, bebidas e rompimentos

não é muito diferente

do que escrever sobre um perfeito vaso chinês,

sobre a infeliz Ismália em sua torre,

sobre um emprego inútil

sobre a fome de amor

sobre a raiva...

Agora vejo,

essa luta incompreensível

contra uma folha de papel

ou uma impiedosa tela branca

que jamais se cansa

trata-se de uma luta contra você mesmo,

uma luta contra o prazer e o tormento da senciência.

Ninguém lá fora me ouve,

a minha música de fundo são os ecos de seus passos

e de suas vozes.

Mas não estou lá e nem aqui.

As teclas que aperto mal fazem ruídos.

As palavras, quando escritas,

são como enormes serpentes cegas e venenosas,

são como animais selvagens andando de jeans pelo centro da cidade grande.

O frio dessa sala tem o mesmo cheiro de solidão

que sinto em algumas pessoas

que passam por mim nas ruas,

tem o meu cheiro.

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 20/09/2019
Código do texto: T6749437
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