O GALHO TORTO

Não escrevo com caneta.

Escrevo com espermas proxenetas

que vivem da alegria do trabalho alheio,

palavras pontiagudas, com seios,

que mal dormem os poetas as acordam

para um dia de faina e que as tornam

filhas dos dicionários nas prateleiras,

pais alheios que nem as penteiam...

Não escrevo com palavras.

Escrevo com larvas de poemas apodrecidos

que perderam os sentidos em místicas odes,

que vieram a este mundo pelas mãos de homens

vestidos com as roupas costuradas pela poesia,

em andrajos cheios de diamantes e outras pedrarias,

vagam pelas esquinas e becos, desertos ressecados,

bebem a láctea noite e sua cereja-lua, empertigados,

dançam à frente das mansões republicanas e repugnantes,

vergam o aço dos verbos com a força poderosa dos andantes...

Não escrevo com o abecedário.

Escrevo com o escapulário do bispo morto,

com a retórica dos franceses e seus ideários,

escrevo como a árvore e seu filho, o galho torto...