FEROZ POESIA
Com um só raio de seu imenso poder heliocêntrico
nos dá o dia e nos mostra as nuvens e o aparente céu azul...
O homem acorda cedo e se enfia no macacão e aperta parafusos
e seu dia entre fechaduras o torna a cada dia mais apavorado e confuso...
O tempo rasga o calendário pendurado em sua neutra parede
e espia nossa vontade de eternidade e eterna e voraz (de viver) sede...
O rio nos diz que caminha por entre pedras e se desmancha no mar
por ser a parte que faltava na pintura aquática a se evaporar...
Os ídolos de barro derretem-se pois cumpriram sua dolorosa missão
de nos confundir entre seres vivos e estátuas pregadas em nossos corações...
O homem pergunta e sua voz se esfarela no espaço e não há resposta
em nenhuma bíblia e em nenhum ticket de números de sua aposta...
Quanto mais cultura de aço e pólen de titânio na vale do silêncio
menos haverá a quem queira buscar no oráculo seu mudo olhar intenso...
Um de nós quem sabe um dia voltará numa nave veloz e nos contará
que palácios e castelos de areia são erguidos no topo do mundo do pensar...
De qualquer modo não estaremos mais por aqui quando chegar o dia
do último poeta sair das trevas para nos ler a última e feroz poesia...