Zé Calango
Zé Calango
Zé Calango nasceu desnutrido
Em meio a seca do sertão.
Deu trabalho a parteira,
Sendo o sétimo de 8 irmãos.
Desde novo percebeu ser diferente,
Água para ele não fazia falta não.
Enquanto os irmãos choravam de sede,
Zé Calango corria para o seco Riachão.
Seu pai da terra vivia,
Sua mãe trazia vidas pela mão.
Em terra seca não se planta,
Vidas secas não nascem mais no sertão.
A família para capital de mudou,
Em busca de alguma profissão.
Mas a miséria que a seca deixou,
Deixou muitas vezes faltar o pão.
Mas chegando à capital,
Nosso herói resolveu estudar,
Queria saber porque de água seu corpo não carecia,
Água, para ele, é apenas para o banho e nadar.
Querendo descobrir o que tinha,
Em livros foi vasculhar,
Não achando a resposta desejada,
Faculdade decidiu cursar.
Foi o sétimo em medicina,
Em faculdade pública foi estudar.
Orgulho dos pais e irmãos,
Nunca imaginaram que um dia,
Algum parente doutor poderia virar.
Para seu problema solução não encontrou,
Um dia desistiu de procurar,
Clínico geral virou,
Outras pessoas se pois ajudar.
Para o sertão voltou,
E lá foi estagiar,
Reviveu na pele a seca,
E as doenças que vivem por lá.
Se formou,
De onde saiu, resolveu voltar.
Quer dar a cura do corpo para quem sofre,
E as almas secas, com um pouco de água regar.
Um pouco de dignidade,
Para um povo sofrido.
Onde a saúde não chega,
E seus gastos não são do imposto deduzidos.
Nordestinos de pés descalços,
Necessidade jogada ao chão.
O preço para saciar a fome,
Se paga na eleição.
Coronéis mandam na terra,
Decidem quem mora lá ou não,
Submissão aos mais fortes,
Aos necessitados, servidão.
Zé quer mudar a realidade do sertão,
Além da saúde, alimenta o cérebro,
Levando ao povo,
Um pouco de instrução.
Participa de toda e qualquer procissão,
Reza para almas necessitadas,
Faz com que o calor do sol,
Aqueça um pouco o coração.
Do sertanejo sofrido,
Que olha para o céu esperando um trovão.
Deseja a nuvem escura, carregada,
Que faz molhar a alma e o chão.