MANIFESTO
O poeta escreve seu manifesto.
Replica sobre sobre a notícia do projeto
de acabar com a palavra na escola,
de fazer o literato viver de esmola,
de trazer o professor à rua
como consertador de coisas
com seu arco de pua,
tornar o pós-graduado em literatura
em flanelinha em noites escuras,
de prender a poesia
no coração de palavras vazias,
trazer à tona a ditadura do silêncio
fechando bibliotecas e outros monumentos,
fazer ganir o fuzil na mão do atirador
acertando em cheio o peito do amor...
O poeta, de dentro de sua cela,
inventa uma janela
e sair a voar sobre a caatinga,
sobre quem bebe pinga
para esquecer os horrores
de viver num país de novos torturadores...
O poeta, em caixão de preço barato
e enfeitado com rosas de plástico,
movimenta o dedo central em pura alegria
e o aponta ao presidente de todas as bobagens
lhe oferecendo uma xingativa poesia,
ato de última coragem...