MEU PAI
Para que eu tivesse dentes perdeste os seus,
para que eu lesse poesias repletas de aventuras
calaste teus olhos nas noites escuras,
para que eu viajasse mundos no mundo ao meu redor
aquietaste seu aventureiro em terra firme,
para dormir o sono dos justos deixaste-me
aprender com os pecados,
para chamar-me de teu filho tornaste-te meu pai...
Para saber de teu valor deixei os meus caírem aos meus pés,
para saber sobre saudade enchi meu coração de bugigangas,
para escrever-te cartas de perdão tantas palavras apaguei,
para ver-me diante dos espelho já com barba e olheiras
olhei-te dentro de mim e em meus olhos nasceram lágrimas,
para saber o que é o amor fustiguei meu desprezo
e ali, onde os homens não vergam, dobrei-me
aos ensinamentos que se revelam depois
que a ignorância se vai, e te amei...
Para deitar no papel este rio grafitado,
para deixar para trás rusgas e rugas no sentimento
escrevo-te este, eivado de luz e quietude,
e teu nome pronuncio como se chamasse
alguém que poderia ter sido meu amigo
e foi simplesmente meu pai...