VONTADE SEM SOBRAS

Quando durmo vou para onde nem sei,

sei que o sonho parece real,

sendo real a doença.

É doença sonhar como faço,

pois não há sobras, nem questões,

apenas o cerco do possível.

E quando acordo comunico:

sonhei que dormia e ao acordar

ainda sonhava e nesta roda

acordei três vezes

até despertar de fato,

desta vez ao seu lado.

Quando durmo pergunto:

“Para onde irei hoje?”.

Estou em um grande parque!

Vá mais longe!

Encontre gente viva,

encontre gente morta!

Vá mais longe!

Suba no bonde!

O bonde é inexplicável

como um hematoma;

é uma imagem presente

em um momento qualquer.

Ele faz a curva,

rumo ao centro de lugar nenhum.

Um lugar que, às vezes, é desejo

de água cristalina para abrir olhos secos,

manhãs de sol luzindo pelas janelas.

DO LIVRO: NOVA MECÂNICA

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 30/07/2019
Reeditado em 11/05/2023
Código do texto: T6708437
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