SUB-RAÇA

Meu coração é de pau-a-pique e sapê,

tem cheiro de coentro e meu sangue é de dendê,

sou brasileiro de cueiro e choro,

minh'alma não tem decôro,

vivo às expensas da imaginação,

mordo os beiços pensando em filé

lambendo a polpa preta do carvão...

Meu destino é igual ao de tantos peregrinos,

pés descalços em ruas de quente asfalto,

de noite sou bicho e de dia sou menino,

me escondo nos desvãos da mente, no mato...

Festa só em dia de enterro de ser amado,

bolinho de chuva, quente café,

conversa com a viúva, o rapaz era adorado,

a calça não chega nem nos pés...

Meu mundo é feito de lembranças e senzalas,

olhos alumbrados na Casa Grande, a cria

do bode é a cabra, do boi que rumina é a vaca,

de quem sonha tal qual eu é a poesia...