ODE À GRANDE MURALHA
“O Dragão Mistério”
Por infindáveis serranias serpenteando
Vai o Dragão-mistério, por milhares de léguas,
Impondo em cada dia sem permitir tréguas,
O seu poder demolidor sempre ostentando.
Meandros do passado da história, confirmando
Dão testemunho, por entre misteriosas névoas,
A um esforço medido por insensíveis réguas,
No corpo de milhões de vidas, trucidando.
Prefigura esta Muralha a pior fronteira
Que em algum dia a mente humana recriou
Dando evasão aos argumentos qu´ engendrou
Em defesa tenaz de uma aura sobranceira.
Laboraram ali escravos e prisioneiros,
Colocando tijolos e pedras sanguinosas
Regadas com suor de gotas lacrimosas
Secadas por cruéis guerras, os seus viveiros.
Por imperadores e magnates subjugados
Todos os povos de humilde condição
Tentaram libertar-se das garras do dragão
Passando a vil Muralha p´ lo sonho alucinados.
Eis o estranho mistério da fatalidade:
Para fugir da fúria do feroz Gengis Khan
Vieram cair nas garras do louco Leviathan
Deixando em cativeiro a sua liberdade.
Co´ a Grande Muralha fez-se e faz-se história
À enigmática luz da paciência dum Chinês
Já dizia o destemido Fernão português
Dando sentido à pertinácia da memória.
Velha Muralha já não tem significado algum,
Tendo em conta o ex-libris do Império do Meio…
Mas, porém, do Turismo brilha um cofre-cheio
E o cidadão do mundo lucro não tem nenhum!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA