ODE À GRANDE MURALHA

“O Dragão Mistério”

Por infindáveis serranias serpenteando

Vai o Dragão-mistério, por milhares de léguas,

Impondo em cada dia sem permitir tréguas,

O seu poder demolidor sempre ostentando.

Meandros do passado da história, confirmando

Dão testemunho, por entre misteriosas névoas,

A um esforço medido por insensíveis réguas,

No corpo de milhões de vidas, trucidando.

Prefigura esta Muralha a pior fronteira

Que em algum dia a mente humana recriou

Dando evasão aos argumentos qu´ engendrou

Em defesa tenaz de uma aura sobranceira.

Laboraram ali escravos e prisioneiros,

Colocando tijolos e pedras sanguinosas

Regadas com suor de gotas lacrimosas

Secadas por cruéis guerras, os seus viveiros.

Por imperadores e magnates subjugados

Todos os povos de humilde condição

Tentaram libertar-se das garras do dragão

Passando a vil Muralha p´ lo sonho alucinados.

Eis o estranho mistério da fatalidade:

Para fugir da fúria do feroz Gengis Khan

Vieram cair nas garras do louco Leviathan

Deixando em cativeiro a sua liberdade.

Co´ a Grande Muralha fez-se e faz-se história

À enigmática luz da paciência dum Chinês

Já dizia o destemido Fernão português

Dando sentido à pertinácia da memória.

Velha Muralha já não tem significado algum,

Tendo em conta o ex-libris do Império do Meio…

Mas, porém, do Turismo brilha um cofre-cheio

E o cidadão do mundo lucro não tem nenhum!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 04/07/2019
Reeditado em 04/07/2019
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