DE QUE ADIANTA?

De que adianta cair

se não souber se levantar,

de que adianta sorrir

se por dentro estás a chorar?

De que adianta recitar a poesia

se as palavras não forem precisas,

se não falarem da noite e do dia

que na alma do homem são vivas?

De que adianta conhecer a solidão

se não há companhia que lhe dê a mão,

se não beberem junto o mesmo chá,

se não tiverem o mesmo motivo para amar?

De que adianta mirar a linha do horizonte

se não houver um destino ali, defronte,

se não não souber nadar naquela água

que tudo revela, lava qualquer mágoa?

De que adianta adiantar o relógio

esperando que lhe mostre o futuro lógico,

se não viver o presente sempre e agora,

sem a mística profecia de adiantar as horas?

De que adianta conhecer por dentro

as vísceras do impiedoso vento,

se não souber a força do som

das batidas do seu coração?