UMA SIMPLES POESIA
Todo dia acordo e é a mesma rotina,
afago o cachorro, beijo minha menina,
bebo o café feito pela patroa,
a vida, lá fora, sua sirene soa,
visto o macacão, o capacete,
a bota apertada, o torniquete,
ligo o carro, vago autorama,
lá estão os cães na grama,
passo praças invadidas
por preguiças tardias,
chego ao trabalho sorrindo,
o rio do dia vai indo,
bato o cartão de ponto,
arfo, respiro, estou pronto,
o patrão indica o que fazer,
apertar, soltar, refazer,
entro nos detalhes da fábrica,
componho a estrutura da maquina,
não sou maestro mas decerto
solo um movimento concreto,
saco a marmita de arroz e feijão,
o ovo suspenso, frito, a sensação
de estar na mesa da cozinha
comendo com minha Rosinha,
viajo uns segundos e volto,
fim da tarde e eu aposto
que o trânsito vai estar leve,
dou adeus aos amigos, até breve,
volto pelo mesmo caminho,
por voltar não me sinto sozinho,
no portão minha menina me espera,
meu deus, como é bela,
dou um abraço de pai saudoso,
entro em casa e, curioso,
que será este cheiro de quitute,
minha mulher fez chucrute,
a beijo, o carinho me invade,
nosso amor nunca é tarde,
a vida, por mais que corriqueira,
se completa, de certa maneira,
quando estou com todos em casa,
meu morno coração de novo em brasa,
apago a luz macia do abajur aceso
não sem antes de sentir um certo desejo
de escrever, como faço todo santo dia,
esta, que lhes dou, uma simples poesia...