HOJE

Hoje os poetas estão em festa,

batem seus corações como quem presta

continência às palavras que passeiam no parque,

usam sua canetas surradas, velhas, usadas,

conversam sobre a possibilidade de um ataque

de novos verbos, novos prédios de adjetivos,

novos dicionários cheios de palimpsestos,

como se a língua, por decreto,

pudesse ser modificada,

e as mesmas palavras ditas,

aplaudidas,

ovacionadas...

Nada que digam ou façam modificará

a cor do luar,

a alma bendita da palavra escrita:

hoje os poetas, calados,

cantam em silêncio

seus cantos

alados...