CHAMAMENTO

Vamos, poetas,

falar sobre o que é bom

e o que não presta,

do governo fora do tom,

da faraônica festa

que nossos corações dão

quando pela porta da frente

entra a multidão

de delírios sentimentais,

vamos, poetas,

lavar a testa

cheia de suor,

falemos do melhor

modo de praticar amor,

deixemos a convalescença,

peçamos licença,

entremos na contramão,

lugar propício ao coração

da imaginação...

Vamos poetas, paremos diante do tanque

da nossa democracia exangue,

não percamos mais tempo,

é hora de imitar o vento,

voar como ave de migração,

migremos a um outro coração,

sejamos cada vez mais poetas,

falemos do que é bom e do que não presta,

a hora é sempre essa,

o grafite tem pressa,

rabisquemos nos muros do mundo

o quanto é profundo

não nos perdemos nos labirintos da tecnologia

enquanto houver a mão que escreve

a sempre viva poesia...