O MUNDO CABE NO SONHO
O vórtice do tempo parou ante o caos, e a luz dos teus olhos, fez nascer em mim a mais esplêndida aurora.
Não sinto o cansaço do tempo, porque o vento meu companheiro e confidente diz-me segredos e leva meus medos.
Barco sem rumo eu não sou, embora muitas milhas me separem do porto de minha saudade.
Peregrina em mim a alma filha das serras, que me canta baladas de azuis madrugadas, que vão me afogando de luz e saudade.
Meu nome ninguém sabe - nome é apenas nome, não uma verdade definitiva.
Sou pedaço de pedra lascada, arrancada a algum pináculo serrano, com que enfrentei ao intruso romano e ao herege maometano. Curvo-me à memória de Viriato, o guerreiro lusitano nunca vencido, vítima da vil traição. Carrego no peito o fervor patriótico, que não dobra o joelho para quem maior que eu não é. Cada um tem a dimensão do si próprio, nada mais. Minha jenuflexão a faço a quem acredito ser meu único Senhor, o Deus de toda a criação.
Eu canto o amor, e rimo a dor com saudade, esta palavra tão lusitana, que é chama ardente mas não devora, e se faz sonho. E o sonho comanda à vida. E a vida é essa centelha divina inexplicável que a tudo ilumina, envolve e, sublima.
O mundo cabe dentro de mim, e eu o abraço em canto porque o pranto, a si, se basta. Não façam caso, pois, se de quando em vez eu chorar a aurora, e cantar o arrebol, porque afinal, o que os difere está apenas na grafia. E o finito embora seja finito, pode carregar o mistério e se tornar eternidade