ESTILHAÇOS

Suponha que eu leia o que você escreve,

que você leia o que eu escrevo;

ambos, teares a tecerem a mesma teia,

juntos, gravetos à mão, na areia escrevendo

sobre felicidade, vertigem, sem um grão de medo,

mirando o mar que nos mira além do que estamos vendo...

Que eu aceite seus pressupostos princípios,

que os meus acate como faz com os poetas antigos;

que saibamos, juntos, que só havia o amor, no início,

o coração, de portas abertas, sempre foi o primeiro abrigo...

A sua casa fechada e a minha também,

os que passam espiam nossas janelas cerradas;

nunca aceitaremos que ali entre alguém

que ouse ferinos conceitos,

que diga outras palavras...

O que prometemos aos outros em nós cabe

para que pousemos nas vidas alheias a alegria;

em nossos dicionários únicos, todos saibam,

somos aqueles que, com estilhaços,

fazemos poesia...