CÓPULA
O cão em felicidade celebra o osso
como o colar de pérolas celebra o pescoço
da senhora que viaja o mundo em busca do bom viver,
como eu celebro este instante do tempo roubado
em que o ocaso se junta à noite de céu estrelado,
supondo que eu o viva e ele o vá esquecer...
A abelha pousa mais leve que o beija-flor assaltante
que desdenha do perigo e rouba o pólen no instante
em que a flor abre os braços em letárgica preguiça
e esquece o fulcro do mel em estado de delícia,
em que a língua humana nem percebe a alegria
do poema que se deita e copula com a poesia...
O homem que se deita com a palavra procria
tons que vagam em tempestades que anunciam
espécies de fonemas nunca antes anunciados,
como um gigante que flutua e com nuvens fia
línguas d'água que espalham rios de poesia
sobre aquele que para e paira diante da imaginação
revelando ao mundo as vértebras de uma nova criação...