rei

em minha casa encardida

eu sou o rei

em minha terra morta

eu repouso em silêncio

sobre a correnteza desvairada

onde minha carcaça

vai parar

eu pisoteio

e sem relutar me levanto

já em guerra com toda

a verdade

em guerra com seu deus

opaca silhueta

em guerra com meu deus

carregado como pó

dentro de meu coração

em guerra com suas torres

em guerra com suas regras

em guerra com suas esperanças

em guerra com seu amor

em guerra com tudo aquilo

que definitivamente

nunca poderei vencer

e ainda assim

no lugar que transformei

em cemitério

eu me deito novamente

e sou levado

para terras desconhecidas

lá sou coroado novo rei

seus olhos brilham

ao contemplar o meu vazio

a beleza se encolhe

de vergonha

diante de meu discurso

vazio

e toda a vida se lamenta

diante da minha destruição

sem alvo ou momento

para terminar

e se algum dia

não houver mais correnteza

a rugir

calmamente me deitarei

pare sempre

olhando para o mesmo céu

que tão obstinadamente

tentei apagar.