O QUE ACONTECERIA?
O que aconteceria
se em vez de poesia
só houvesse conversas vãs
entre o hoje e o amanhã,
se em vez de versos
só se falasse dos complexos
das grandes indústrias,
dos lobos, das súcias,
das matilhas lúbricas,
só se comentasse
sobre as políticas vorazes,
dos desenhos animados
onde o herói nunca morre,
sempre alguém socorre,
só se perguntasse sobre a Bolsa,
como a alma anda louca,
como ficaria
se a poesia
estivesse restrita
a quem sobre as palafitas
dança sob o comando dos estragos,
o que seria a nós comunicado
através de tempestades,
o que seria, na verdade,
um sarau de nenhum poeta,
um riso de boca aberta,
o fim de toda festa
sem o som da alegria,
isto é, o canto perigoso
de toda perigosa poesia?