SEMPRE DEPOIS

Subo no poste para ver o sol sorrir

a lua chorar

ele se veste de dourado

ela de mar

nenhum precisa que lhe digam como nasce o dia

nem como do ventre da estrela brota a noite

fácil é dizer ao cão que se cale

do que pintar como Picasso

ombro a ombro com a gota de chuva

ela vai primeiro

foi só fazer um risco na parede

para desenhar outros mundos

cubro de terra a semente

que se deita e dorme e nasce árvore

somos apenas os rabiscos

que a natureza fez nas pétalas da macieira

aguento mais uns vinte anos

e depois rasgo o colete e levo bala

se te ponho diante do que escrevo

é porque tenho tudo

e muito medo

amanhã é algo dentro da perversa

casca que demora a fenecer

mesmo que haja

a fome...