SOU VOCÊ

Sou o suposto tudo indo ao encontro do nada,

sou a Bíblia de carne sem nenhuma letra escrita,

sou o pobre jogador sem moedas usando a palavra

para enganar quem lê o verso que em sua mudez grita...

Bata na porta de minha casa e a imagine cheia

de tijolos umedecidos pela poética e mágica areia,

ela estará aberta, entre, se sinta à vontade,

nenhuma casa é secreta e nem a mais pura verdade...

Sou o passageiro na carroça dos anjos decaídos,

sou aquele que tem a escritura mas não a posse;

espie e verá que sou eu atrás do olho mágico de vidro,

velho, antigo, que em vez de cantar apenas tosse...

Sou você tentando ser outra pessoa diferente,

morando na Cracóvia, passeando, dândi, em Paris,

sabendo, lá dentro, que é o mesmo ser indolente

abandonado neste planeta, encrencado, infeliz...

Não abandone a carroça de seus desvarios em público,

nem faça da psicanálise o motivo de achar seus sonhos reveladores;

toque a canção de Mozart ferindo a flauta como um grande músico,

espalhe as sementes de sua felicidade e não o pólen de suas dores...