SACOLA DE POESIAS

Tivesse eu uma sacola de poesias,

cheia, chorando pela que está vazia,

aos pés dos homens ensandecidos a esvaziaria,

os veria delirar em profunda mutação metalinguística,

faria com o que o mundo reiniciasse como um computador desligado,

no átrio das grandes loucuras Deus olharia e riria, sei, apaixonado...

Tenho, sim, em minhas mãos, um naco de verso,

farinha, açúcar, entranhas de uma poesia sem ventre,

o córtex de uma ode em fragmento de hortelã, imerso,

caminho abraçado a dois anjos devassos, eles, entre...

Olho as mãos de quem escreve poesias desastradas e furibundas,

suas veias saltadas, seus olhos injetados, sua amarga música cega,

a flor mística que nasce sobre as águas podres, nascentes imundas,

o homem, este passeador, ao mundo sua lucidez sem luz nega...

Abro a sacola de poesias e disparo pétalas sobre a multidão,

arranco sorrisos de máscaras e sinto a nau antiga a ancorar;

os hospitais dão, agora, ideias, filetes, emplasto, coração,

nenhuma jangada virá pelo Oeste, olhe bem, não há mais mar...