ME FAREI ASSIM
Me vestirei de mulher
para saber a diferença entre garfo e colher,
me vestirei de padre
para saber me esconder
dentro de um confessionário
e me chamarei de vil covarde,
me vestirei de louco
para entender o quão pouco
gastarei de minha sapiência
para me dotar de sementes da ciência,
me vestirei de nadador
para nadar neste mar de dor
cheio de lixo e garrafas e argolas,
me enterrarei numa lata
de Coca-Cola,
serei a resposta ao que semeia
caos
onde deveria ser mar e areia,
o bruto embrutecido Tao,
me vestirei de pastor
para aumentar a dor
dos fiéis infiéis,
aceitarei a renúncia fiscal
no templo
do Deus letal,
me vestirei de doença
para semear a cura
entre consciências
que geram conceitos,
morrei, enfim,
deitado nos braços de uma mãe
mamando em seus peitos...