POR MAIS QUE...

Por mais que eu dê sentido

ao vidro,

através dele vejo

o que nele não cabe,

a aparência do mármore,

o incabível no cabido,

a raiz da árvore...

Por mais que eu dê sentido

aos sentidos,

sou o vidro onde o que não vê vê,

sou aquilo que poderia ser,

uma estrela ascendente,

um novo dente

na velha boca humana,

um avatar da consciência,

mais que poder e fama...

Por mais que eu espere

por aqui não passará

a nave interplanetária,

sou massa demais

ao acaso,

sou prato feito,

raso,

por mais que eu deseje ser o que não sou

serei aquele que pensou

ter asas

e voou

rumo ao abismo,

rumo ao sísmico

rumor que vem das entranhas da terra,

eu, passante passageiro,

na boleia da ideia de esfera...