FRONTEIRA

Se eu chegar até sua fronteira

Me deixará passar

Ou às minhas costas colará a bandeira

Dos que sentem o sal sem ver o mar?

Se eu apresentar meu passaporte

Como nome e número definido

Me deixará ir para o norte

Ou me enjaulará em vidro?

Se eu tentar saltar o que me impede

Revelará sua oculta bondade

Ou fará como quem procede

Mentindo à mais pura verdade?

Se já em campo aberto e em fuga

Como um Bach que voa o espírito

Tornará minha carne muda

Só para ouvir meu sinfônico grito?

Se meus parentes saírem à minha procura

Em cortejo fúnebre para um enterro decente

Permitirá que me encontrem na noite escura

Onde vagalumes vivem fugazes e de repente?

Tudo o que pergunto procura uma resposta

Que não se sabe de onde virá e em que dia

Oportuno se livrará a canga pesada às costas

Que levo como palavras que carregam sua poesia...