Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã teria deixado para trás tantos sonhos...
Sequestrados, engavetados, guardados, suspensos, expulsos e congelados.
Teria vestido os melhores vestidos do corpo,
mas deixado a alma descoberta, numa imagem nua, fria.
Teria visitado países e lugares extraordinários,
mas deixado de visitar o meu Eu interior e tirado dele o que tinha de melhor para incorporar uma identidade limitada, mas ciente.
Teria exercitado os músculos da face como expressão simples de bem estar e entre um sorriso e outro, revelaria as lágrimas (tão inocentes a princípio),
mas que foram a instrumentalização da minha ansiedade carregada de julgamentos, de críticas e de expectativas.
Teria amado o suficiente,
mas não o necessário para fazer do silêncio uma arma pacificadora.
Teria acordado e vivido, dia a dia, um de cada vez,
mas deixado de agradecer as conspirações do Universo (alguns chamam de Deus) por não aceitar que a Lei do Retorno é implacável e a colheita é justa.
Teria sido intensa nas emoções em relação a terceiros,
mas tão rude ao perceber e sabotar as minhas, ou intensificá-las, usando-as como um disparo á queima roupa, fatal.
Teria usado as palavras para transcrever a conduta da alma,
mas perdido um tempo danado em praticar a razão a qualquer custo.
Se morresse amanhã, ao mínimo, teria consciência de que é pouco o que fiz, contudo primordial, na labuta diária em que disputam espaço o Ser e o Ter. E que aquele seja soberano... Espero.